Entrevista o João Gavião, Passivhaus Voltamos a encontrar o João Gavião, um dos membros fundadores da Passivhaus Portugal, para responder às perguntas colocadas pela comunidade acerca da eficiência energética das nossas casas. A eficiência energética é uma das grandes mais valias duma Passivhaus mas não é a única. Mais importante que a redução das necessidades de energia está o bem-estar proporcionado aos seus ocupantes, assegurando ambientes interiores confortáveis e saudáveis, ou seja, com conforto térmico e acústico e boa qualidade do ar interior. Obviamente podemos e devemos considerar outras dimensões para avaliarmos a eficiência dum edifício, como a eficiência hídrica ou a eficiente utilização dos recursos necessários para construir ou até, numa dimensão mais abrangente, todo as acções e actividades do agregado familiar, por exemplo. Como costumamos dizer, a Passive House é um ponto de partida e não um objectivo final. É um ponto de partida para abordar precisamente essas outras dimensões de forma integrada, sabendo que teremos o melhor desempenho na operação do edifício durante os 40 ou 50 anos, ou mais, de vida do edifício. Uma das vantagens operacionais da abordagem da Passive House é precisamente a clareza e objectividade da sua metodologia. O desempenho Passivhaus assenta unicamente no desempenho e, como tal, poderemos ter uma Passive House com diferentes sistemas construtivos, diferentes linguagens arquitetónicas, diferentes sistemas técnicos. Um desempenho Passivhaus pode significar reduções das necessidades de energia para climatizar até 75 % em edifícios novos e até 90 % na reabilitação. Há casos reais em que as reduções forma de 94 %. A verificação dos requisitos Passive House é feita através da simulação e avaliação do edifício com um software específico, o PHPP, e são os seguintes: um limite para a energia necessária para o aquecimento ambiente de 15 KWh/m².ano; um limite para a energia para o arrefecimento também de 15 KWh/m².ano; e um limite de energia primária para todas as utilizações de energia no edifício. Há também um requisito obrigatório para avaliar a estanquidade ao ar da envolvente do edifício, que tem de ser obtido através de um ensaio no próprio edifício. Falando como arquitecto, a maneira como projectamos os edifícios tem um impacto decisivo no seu desempenho. E ao falar do projecto falamos da área de construção mas também doutros parâmetros como por exemplo a forma do edifício e a quantidade de saliências e reentrâncias que são definidas, ou a orientação e dimensão das janelas. Todos estes parâmetros vão ter um impacto no desempenho. Assim, se quisermos optimizar o desempenho e conseguir mais com menos teremos de ter formas mais compactas e harmoniosas, utilizar os princípios da arquitectura solar passiva, ter um grande cuidado nos detalhes construtivos, etc. No fundo, trata-se de aplicar a inteligência no projecto. Deveremos evitar a complexidade artificial que é um recurso muito utilizado e procurar a simplicidade. Como em muitas outras situações, devemos seguir o princípio KISS (Keep It Simple, Stupid). Sim. Como foi referido anteriormente, o desempenho Passive House pode ser alcançado com qualquer abordagem de projecto e solução construtiva. Há exemplos de edifícios com desempenho e certificação Passive House construídos com contentores. Deixo um exemplo aqui. Partindo do princípio que, por construção natural se entende a utilização de materiais naturais e a sua correcta integração no meio, estamos a falar de abordagens que são totalmente complementares. Uma Passive House assegura o mais elevado desempenho na operação do edifício(conforto, qualidade do ar, eficiência energética) que pode ser projectado e construído com materiais naturais e com baixa energia incorporada. Alguns excelentes exemplos são este edifício escolar/centro de investigação no Reino Unido, e esta habitação off-grid nos EUA. Sim, é possível e faz todo o sentido renovar um edifício ou um apartamento com a aplicação dos princípios Passive House. Naturalmente numa reabilitação haverá soluções que não poderão ser optimizadas e por isso o cumprimento do desempenho Passive House irá depender do grau de intervenção e do esforço que se colocar no projecto. Para responder a estas situações o Passivhaus Institut definiu o nível de desempenho EnerPHit, que não é tão exigente como o padrão de desempenho Passive House. Na reabilitação há uma outra abordagem possível e que faz sentido nalgumas intervenções. É a reabilitação passo-a-passo, em que é definido um plano de intervenção ao longo do tempo, permitindo o espaçamento das necessidades de capital para investir. Nesta abordagem estamos também a prolongar o tempo de vida dalguns componentes existentes no edifício. Não haverá um acréscimo dos prazos por implementar os princípios Passive House numa construção nova ou numa reabilitação. Trata-se de fazer bem à primeira e de cumprir com o projecto, que já foi definido de modo a possibilitar esse desempenho. Se forem cumpridos todos os requisitos técnicos e regulamentares não há motivo para existir dificuldades no licenciamento de qualquer projecto sustentável ou projecto Passive House. Em primeiro lugar, uma Passive House ou qualquer outro tipo de edifício em Portugal tem de cumprir com toda a legislação em vigor. Em segundo lugar, na equipa projectista têm de constar projectistas ou consultores Passive House para assegurar que o projecto cumpre com o desempenho Passive House e simultaneamente com os regulamentos e legislação em vigor. Não. Nós criticámos e criticamos este tipo de abordagem na atribuição de incentivos precisamente pela falta do tal plano de intervenção. Por um lado, sem haver um plano de intervenção, sem haver metas definidas, não haverá a necessária e urgente transição do parque edificado em Portugal. Por outro lado, a definição de soluções de forma avulsa pode resultar até em problemas acrescidos no desempenho do edifício, como o surgimento de patologias onde antes não existiam. O que defendemos é a transição progressiva de todo o parque edificado para níveis de desempenho Passive House. É também altura de tratar a questão da má qualidade dos edifícios que utilizamos como uma questão de saúde pública, uma vez que a ligação entre os ambientes interiores que utilizamos e a nossa saúde está claramente identificada. Esta transição passará pela implementação, entre outras, das seguintes medidas: reformulação da definição do nZEB (nearly Zero Energy Building) em Portugal; ter o estado a liderar pelo exemplo ao nível municipal, regional e central; reformular a oferta da formação profissional e académica. A transição do parque edificado em Portugal para níveis de desempenho da Passive House é uma exigência económica, de salvaguarda da saúde pública e fundamental para se fazer cumprir a Constituição Portuguesa. Temos Passive Houses construídas e em construção com preços correntes em Portugal. Para que isto aconteça é necessário que o projecto esteja optimizado para o desempenho, é necessário aplicar a inteligência no projecto. Por exemplo, nas fazes iniciais do projecto, orientar bem o edifício ou orientá-lo mal custa o mesmo. Mas o resultado desta decisão de projecto irá ter um grande impacto no desempenho do edifício. O mesmo se aplica à forma do edifício, às áreas envidraçadas, à complexidade artificial introduzida no projecto, etc. Há também dezenas de exemplos na Europa e até na América do Norte de habitação social com custos controlados, demonstrando a viabilidade económica desta abordagem, mesmo sem entrar em consideração com as poupanças geradas nos 40 anos de operação do edifício. Nós defendemos a Passive House Para Todos e é isso que apresentamos no nosso Manifesto. A casa perfeita é aquela que contribui para o nosso bem-estar, sem pôr em causa o bem-estar das outras espécies, animais e vegetais, do meio onde se insere. Por isso, seria uma Passive House, assegurando a eficiência energética e resiliência e o conforto e a saúde dos ocupantes, construída com materiais naturais e com o menor impacto ambiental, com a utilização eficiente da água e com a produção local de alimentos, integrada numa comunidade ou cidade que promova a mobilidade leve e privilegie o transporte colectivo em detrimento do individual e que estivesse harmonizada com o meio natural envolvente. Preferencialmente a casa perfeita teria outras casas perfeitas na vizinhança potenciando ainda mais a gestão eficiente dos recursos.A PassivHaus parece ser um conceito para uma casa eficiente a nível energético. Mas é “apenas” pela redução do consumo de energia que deve ser melhorada a eficiência de uma casa?
Quais são os critérios e, por consequência, como podemos medir a eficiência energética de uma casa?
A área de uma casa tem influência no seu conforto e eficiência energética? Se sim, de que forma?
É possível aplicar o conceito PassivHaus a uma casa feita com contentores?
Qual a diferença principal entre uma PassivHaus e uma casa de construção natural?
É possível tornar um apartamento antigo com várias lacunas ao nível da sua construção numa casa sustentável e eficiente?
O tempo estimado em média para fazer uma passivehouse é superior ou inferior ao de uma construção normal?
E no caso de já ter uma casa e queira fazer alterações – vamos supor um T2 com 150m2 – qual a estimativa de tempo para as alterações?Somos um grupo de cidadãos, arquitectos e engenheiros que nos juntámos para construir o primeiro edifício-escola público sustentável, auto resiliente e feito com materiais autóctones, em São Miguel, nos Açores. Encontramos muita dificuldade na aprovação do projecto por parte das entidades públicas. Como contornar toda a legislação de edificação de edifícios públicos para conseguir incluir conceitos passivos em projectos de construção e conseguir o licenciamento devido?
Achas que é com medidas avulso, como as incentivadas pelo programa de Apoio Edifícios Mais Sustentáveis do Ministério do Ambiente e da Ação Climática que vamos alcançar uma renovação ou reabilitação de alto desempenho energético em edifícios existentes?
Que medidas são necessárias a nível nacional para uma melhoria radical do parque habitacional português, que creio ser fraco a nível de qualidade?
A eficiência energética e a sustentabilidade na habitação é uma questão financeira? Achas que pode estar acessível a todos ou pelo menos à maioria da população?
Como descreverias uma casa perfeita ao nível de sustentabilidade?
Até à próxima “Entrevista”
Obrigado pela vossa colaboração 🙏